Por equipe de comunicação ABES/BWW
Como é o alcance de água e esgoto em regiões rurais e comunidades isoladas, seja no território nacional, seja na América Latina? Essa e outras questões foram debatidas no encerramento do quarto dia da BWW 2022, Brazil Water Week, realizada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, com o eixo do Tema 1 – Água, Saúde e Saneamento para todos, na tarde desta quinta-feira, 26 de maio.
Em sua terceira edição, a BWW 2022, o mais importante evento internacional sobre água do país, acontece online até esta sexta (27), em plataforma exclusiva e interativa e já é considerada o streaming do saneamento. Os inscritos têm 90 dias para acessar todo o conteúdo da programação. . Para fazer sua inscrição, acesse aqui.
A Sessão 1.2 – “O planejamento para a universalização do saneamento rural e de comunidades isoladas: Estado, políticas federais e as empresas privadas sob o mesmo propósito” foi moderada por Mônica Bicalho, coordenadora da Câmara Temática de Saneamento Rural da ABES (e teve como facilitadora Juliana Almeida Dutra, coordenadora do Tema 1 e coordenadora adjunta do Comitê Organizador do evento).
Os debatedores foram Marcelo Chaves Moreira, coordenador de Assistência Técnica à Gestão em Saneamento da Funasa; Marcondes Ribeiro Lima, diretor-presidente do Instituto SISAR; Malva Rosa Baskovic, especialista Sênior de Abastecimento de Água e Saneamento do Banco Mundial; Helder Cortez, diretor de Unidade de Negócios do Interior da Cagece e Carlos Singh Ospina, representante Del Program Saneamiento de la Ciudad de Panama del Ministerio de Salud Y Miembro de AIDIS, Panamá.
Malva Baskovic iniciou sua fala destacando a responsabilidade em não deixar nenhum cidadão desassistido quando o assunto é o acesso à água e enfatizou soluções e demandas em países da América Latina e Caribe. “Percebemos grandes mudanças quando pensamos em saneamento, como a densidade demográfica, a migração para as cidades e as demandas e ações de gestão sustentável dentro das comunidades rurais. Vemos também a necessidade de um modelo descentralizado, que abranja e alcance todas as pessoas, bem como mais clareza por parte dos governos locais e mais interação em levar informação confiável sobre higiene, acesso à água e gestão sanitária, às comunidades mais isoladas nos países da América Latina e Caribe. O abismo é ainda grande e não podemos deixar ninguém para trás. Devemos reconhecer que a área rural mudou sua configuração nos últimos anos e as abordagens devem ser construídas com resiliência e de forma individualizada”, apontou em sua apresentação.
Na sequência, Helder Cortez falou das estratégias de universalização do acesso ao saneamento no Ceará, dentre elas o fomento na educação socioambiental, investimentos aprovados por órgãos como o Bird – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento. O destaque ficou para o SISAR (Sistema Integrado de Saneamento Rural), que já beneficia 35% da população rural no Ceará. “Esse sistema envolve a participação comunitária na gestão do saneamento rural, empoderando-a e auxiliando na qualidade de vida das pessoas, pois elas são participantes de todo o processo”, explicou, emendando que o modelo, também está sendo aplicado em outros estados como Piauí, Pernambuco e Bahia, e reconhecido em outros países como Índia e Moçambique.
Já Marcondes completou que as oito unidades do SISAR, que levam o nome das cidades onde atuam, são independentes, mas unidas entre si. “É importante citar que o SISAR cresceu por causa da vontade das pessoas em fortalecerem-se. Por meio de parcerias, trabalhos socioambientais, projetos entre as próprias associações, hoje, essas unidades já atendem 160 municípios, com 1.295 sistemas implantados, beneficiando mais de 900 mil pessoas. Não somos rivais das companhias de abastecimento, mas um parceiro em levar esse sistema”, disse. Ele detalhou inovações e tecnologias aplicadas no escopo do SISAR, como dessalinização, placas solares, além da recuperação e implantação de estações já existentes de tratamento de água.
Carlos Singh, na sequência, deu um contexto geral sobre a realidade no Panamá, com população na casa dos 4 milhões de habitantes. “Mesmo sendo um país pequeno, vemos as enormes diferenças de acesso ao saneamento, especialmente nas áreas rurais (36%), o que engloba localidades indígenas. A disparidade é que nas áreas onde há mais água, sua precipitação e disponibilidade não é igual. Ressalta-se que a definição de área rural aqui é aquela região com 1.500 habitantes, ou seja, uma com mais de 1.700 habitantes já não é considerada área rural, mas tem as mesmas ou mais dificuldades, como as de menor população. Os desafios e lacunas são ainda grandes”, pontuou o especialista.
Uma das metas que ele destacou é que até 2050 o Panamá leve água e cobertura de saneamento a todo o território, principalmente o indígena e rural, além de investir por volta de 10 bilhões de dólares nesse processo. Um dos projetos já implantados foi levar água limpa e saneamento (o que inclui latrinas) para 2.000 residências rurais e indígenas.
Por fim, Marcelo Moreira, da Funasa, fez um panorama sobre o acesso ao saneamento básico, com foco nos municípios. Em sua apresentação, ele mostrou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que apontam que em 2010 (último Censo), cerca de oito milhões de domicílios estavam em regiões rurais. Destes, cinco milhões contavam com rede de distribuição por poços ou nascentes. A meta do Plansab, Plano de Saneamento Básico (2014-2033), é que até 2033, o acesso a rede de distribuição por poços ou nascentes chegue a 7 milhões de domicílios. “Mas, sabemos da grande demanda e que ainda teríamos um déficit. Uma das propostas da Funasa está no diálogo com os gestores dos municípios e ouvir as comunidades. Precisamos lembrar que o alcance da universalização engloba entender os sistemas de saneamento empregados e como as informações sobre esse trabalho são apresentados à população local. E, claro, se ela é ouvida. Planejar, pesquisar e monitorar são essenciais para promovermos ações”, frisou o especialista.
As apresentações foram finalizadas com a sessão de debates.
No total, são cinco dias inteiros com mais de 40 horas de conteúdo online e 110 especialistas do Brasil e de outros 19 países, compartilhando suas experiências sobre os temas. Toda a programação do primeiro dia está aberta no canal da ABES no YouTube (clique aqui para assistir). Nas semanas anteriores, a BWW contou com seis sessões especiais gratuitas no canal da ABES no YouTube (assista aqui). Esta edição da BWW 2022 conta com os patrocínios da Sabesp, ANA, Copasa, Embasa, Funasa, Aegea, Sanasa e Sanepar.