Por equipe de comunicação ABES/BWW
A Brazil Water Week, o mais importante evento internacional sobre água e saneamento do país, foi encerrada nesta sexta-feira, 27 de maio, com o Tema “Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Sustentabilidade”, composto por palestras da Sessão 7.3 – Refletindo sobre o avanço nos indicadores ESG para alcançar a sustentabilidade do setor de água. Realizada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, a Semana da Água do Brasil, que foi transmitida em plataforma exclusiva e interativa, já é considerada o streaming do saneamento. Os inscritos têm 90 dias para acessar todo o conteúdo da programação. Para fazer sua inscrição, acesse aqui.
Desde 2020, o tema ESG (Ambiental, Social e Governança) ganhou enorme impulso, principalmente no debate financeiro. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, garantir um suprimento adequado de água limpa, apesar dos efeitos prejudiciais das mudanças climáticas, é um dos desafios mais urgentes do mundo. Entre seus diversos objetivos, os indicadores ESG são uma métrica importante para alcançar os melhores padrões de sustentabilidade e têm sido um desafio para empresas e organizações, incluindo empresas de água.
Para mostrar como está o desenvolvimento dos Princípios ESG no âmbito do setor de Saneamento atualmente, a sessão, moderada por Marcela Nectoux, membro do Infra Women Brazil e pesquisadora do Gespla (Grupo de Pesquisa em Gestão e Planejamento de Recursos Hídricos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), contou com participação de especialistas que compartilham grande expertise no tema: Marcelo da Fonseca, do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM); Karla Bertocco, sócia e Head de Infraestrutura da Mauá Capital, e conselheira de administração da Corsan e da Orizon Valorização de Resíduos; Gustavo Guimarães, Co-Head Sanitation da Perfin & Startups Investor; e Dean Amhaus, president e CEO of The Water Council (TWC). Juan Ramirez Costa de Miranda deu suporte no chat.
O início da sessão foi conduzida por Marcelo da Fonseca, que participou representando Marília Carvalho de Melo, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad). Ele falou sobre os principais fundamentos que compõem os Princípios ESG e como está sua adoção no Estado de Minas Gerais com exemplos no âmbito do Sisema – Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. “A centralidade da água está associada ao desenvolvimento sustentável do nosso Estado. É um elemento fundamental para todos os empreendimentos humanos”, salientou.
Ele destacou os desafios na Agenda Mundial até 2030, com atualização das metas associadas aos ODS, com destaque para o ODS 6, e a proposta para o estabelecimento de uma meta global para a água, conforme conclusões e recomendações da UN – Water, sobre a essencialidade da gestão da água.
O especialista fez considerações sobre o Relatório 2020 (ODS) com informações sobre os efeitos da pandemia de Covid-19 na questão dos recursos hídricos em nível global. “É importante que tenhamos a participação das instituições financeiras para a consolidação de critérios ESG”, frisou.
Marcelo complementou sua apresentação com os eixos de atuação das empresas para fomentar o ESG; como os critérios podem ser implementados para a redução de perdas de água, entre outros fatores. Ele destacou as ações para o reúso de água em Minas Gerais, um dos primeiros estados a regulamentar essa questão. O executivo citou ainda os benefícios que a prática proporciona, entre outras informações que envolvem o monitoramento de governança da água e outros componentes que envolvem sua gestão estratégica no estado mineiro.
Na sequência, Karla Bertocco, da Mauá, fez ponderações sobre o investimento em tempo, energia e discussões em torno do ESG, assim como o poder público que está bem relacionado com o tema e trouxe suas perspectivas sobre os pontos de vista do investidor e da companhia. A executiva atentou para que sejam tomados cuidados para fugir dos modismos e fórmulas prontas no que se refere aos aspectos ESG, que muitas vezes não são aplicáveis às diferentes realidades de negócios, principalmente em um país como o Brasil.
Ela destacou que se fala muito que o setor de saneamento é “ESG na veia” e essa afirmação às vezes incomoda um pouco, mesmo sendo bom porque é uma oportunidade incrível trabalhar em um setor que acaba se destacando, com muitas externalidades positivas e benefícios. “Mas não é por isso, entre outros fatores, que todas as companhias vão estar alinhadas aos parâmetros ESG, por isso não podemos nos acomodar por estar atuando em um setor ESG friendly, pois isso não é suficiente”, observou.
Além disso, quando se trata dos critérios ESG, a executiva fez uma correlação com a preocupação em torno das mudanças climáticas e as variáveis que impactam o meio ambiente e é natural que seus indicadores de acompanhamento ESG vão estar relacionados ao uso racional da água, políticas de eficiência energética, uso de fontes renováveis, e também do ponto de vista de carbono. “As mudanças climáticas passam a ser uma agenda mais relevante para o setor de saneamento hoje e exige cuidados que devemos ter com as emissões de gases de efeito estufa”, enfatizou.
Com um ponto de vista amplo, Karla informou que o setor também se vê numa fronteira de como vai lidar com as emissões de GEE, entre outras intervenções para o tratamento de esgoto de 100 milhões de brasileiros para atingir as metas de 2033. “Tudo isso mostra que o ESG está muito ligado ao conceito de mudanças climáticas relacionadas à pegada de carbono e influência, inclusive toda a atuação da cadeia de fornecedores do setor composta por pequenas e médias empresas”, explicou.
Ela citou também a importância dos indicadores com destaque para a criação do Index ESG da ABES, levando em conta os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Karla atentou que o rol de atuação em atendimento ao ESG no setor de saneamento é muito amplo. “É importante focalizar o trabalho para ter bons indicadores de impactos, e que sejam mais precisos para que tenhamos condições de reportar de uma maneira mais fiel, aos investidores do setor, os esforços que estamos fazendo e os resultados que estamos alcançando”, pontuou Karla.
Em seguida, Gustavo Guimarães, destacou a atuação da Perfin no setor de saneamento, trazendo uma visão do mercado sobre os benefícios e os riscos em torno do ESG com destaques para os cases da Corsan, da BRK, da Iguá Saneamento, e da Aegea, que já estão alinhados com os critérios de meio ambiente, social e governança.
Segundo ele, o mercado de saneamento seja empresa privada ou pública que tem atuado, comunicado e percebido esses parâmetros consegue colher benefícios, mas citou algo que também o incomoda muito nesta evolução é que a falta de colocar uma perspectiva: “a nossa indústria, quando falamos do tamanho do nosso gap, estamos declarando que o nosso gap é para o indivíduo e na minha visão as empresas que estão atuando no saneamento, além dessa responsabilidade de levar os serviços eles deveriam ser canal de interação para que a população venha a ser ESG, porque não vai só adiantar ações das organizações, precisamos mudar a atitude em nível individual, chamar o cliente para participar dessa agenda ou não teremos mudanças concretas. Os ESG serão mais uma onda e não é isso que queremos”, ressaltou.
A contribuição internacional para o tema da Sessão 7.3 ficou a cargo de Dean Amhaus, da Water Council. O especialista abordou a importância de distinguir o que são métricas ESG e o que realmente são atividades tangíveis para o setor neste tema. Com informações sobre as ações da Water Council ele abordou o comportamento das empresas em relação ao uso da água. “Há cerca de dois anos começamos a prestar mais atenção nesse aumento que teve de adoção ao ESG e a maior parte do tempo o foco estava em meio ambiente”, disse.
Para ele, o que está sendo ignorado é no sentido de atender aos riscos materiais para as empresas, pois o que acaba acontecendo com muita frequência é que os empresários ficam somente no jogo de reportar, preocupados em ter uma boa pontuação em ESG e só isso não basta. Dean deu o exemplo da Tesla de como estão gerenciando os ESG nas suas operações.
Para ele, a questão da água é muito mais complexa porque são localizadas. “É importante pensar no contexto local para gerir os processos de operações das empresas em atendimento aos princípios ESG”, observou, com demonstração do Wave Methodology utilizado nos Estados Unidos.
As apresentações foram finalizadas com a sessão de debates.
No total, o evento foi realizado em cinco dias inteiros, com mais de 40 horas de conteúdo online e 110 especialistas do Brasil e de outros 19 países, compartilhando suas experiências sobre os diversos temas do universo da água e saneamento. Toda a programação do primeiro dia está aberta no canal da ABES no YouTube (clique aqui para assistir). Nas semanas anteriores, a BWW contou com seis sessões especiais gratuitas no canal da ABES no YouTube (assista aqui). Esta edição da BWW 2022 contou com os patrocínios da Sabesp, ANA, Copasa, Embasa, Funasa, Aegea, Sanasa e Sanepar.