As mudanças climáticas têm potencial de impacto extremamente relevante sobre o setor de saneamento e à vida das pessoas em geral. Esta será uma das grandes temáticas que estará no centro dos debates da Brazil Water Week 2024 – Semana da Água do Brasil. Em sua quarta edição, o mais importante evento internacional de discussão de água e saneamento realizado no país, uma iniciativa da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), acontecerá de 3 a 7 de junho, em plataforma digital exclusiva e interativa
A edição deste ano traz como tema central “Água e Saneamento para o desenvolvimento sustentável”. Reunindo profissionais de várias partes do mundo com as comunidades acadêmica e técnica do país, a BWW possibilita a troca de experiências, trazendo conhecimento relevante de outras realidades e divulgando internacionalmente as melhores práticas brasileiras.
Na plataforma do BWW 2024, serão realizadas 20 sessões de discussão e sessões especiais, nas semanas que antecedem o evento. Os participantes inscritos terão acesso a uma programação exclusiva voltada para compartilhar trocas de experiências nacionais e internacionais sobre oito grandes temas: Inclusão social e acesso universal; Tratamento de esgotos/ETEs sustentáveis; Economia circular e Soluções Baseadas na Natureza; Regulação; Gestão Eficiente; Cooperação Internacional; Financiamento do setor de Saneamento; e o Tema 8 “Meio Ambiente, Mudança Climática e Segurança Hídrica”, destaque desta entrevista.
O Tema 8 é coordenado por Mônica Porto, Professora Drª Titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), juntamente com Rafael Volquind, coordenador da Câmara Temática de Meio Ambiente da ABES.
Nesta entrevista, a coordenadora ressalta que o saneamento brasileiro enfrenta grandes desafios, principalmente, com relação às questões ambientais. Neste sentido, enfatiza a especialista, “o encontro de técnicos brasileiros e de outros países permite a discussão, a troca de experiências e a ampliação do conhecimento. Dado que estamos tratando de temáticas difíceis, a ABES traz ao país a oportunidade de encontrar novos caminhos e soluções que permitam alcançar com mais eficiência metas que resultem em melhor qualidade de vida para a população”.
Leia a entrevista:
Portal ABES Notícias – Como a senhora vê a importância da Brazil Water Week para o setor de saneamento e meio ambiente no país?
Mônica Porto – O desafio do saneamento no país é muito grande, assim como são desafiadoras as questões ambientais. O encontro de técnicos brasileiros e de outros países permite a discussão, a troca de experiências e a ampliação do conhecimento. Dado que estamos tratando de temáticas difíceis, a ABES traz ao país a oportunidade de encontrar novos caminhos e soluções que permitam alcançar com mais eficiência metas que resultem em melhor qualidade de vida para a população. Temas como impacto das mudanças climáticas sobre a segurança hídrica vão requerer um esforço adicional do setor de saneamento para adaptação a novos padrões de precipitação, por exemplo. Ou também o desafio trazido por vazões de cheia maiores que causam perdas de vidas e danos econômicos, também requerem novas abordagens, principalmente em sistemas de alerta e gestão urbana.
Portal ABES Notícias – O que a Brazil Water Week está trazendo de novidade nesta edição para dentro do seu tema?
Mônica Porto – Queremos discutir principalmente medidas de adaptação à nova realidade climática. Estas medidas podem incluir aumento da infraestrutura convencional, como barragens para a criação de reservatórios de acumulação, mas também outras medidas como a gestão dos mananciais sob a ótica do risco, como é a gestão conjunta de mananciais superficiais e subterrâneos. Uma discussão mais ampliada de tecnologias como a dessalinização pode ser também bastante útil para o Brasil. A dessalinização tem se tornado cada vez mais uma opção viável para áreas litorâneas e o Brasil, com sua característica de país úmido, tem discutido pouco essa alternativa.
Portal ABES Notícias – Como a senhora avalia o trabalho do Brasil no combate aos impactos das mudanças climáticas no país e o que podemos apresentar para o mundo?
Mônica Porto – O Brasil tem exemplos para demonstrar principalmente na implantação de soluções que visam aumentar a resiliência dos sistemas de abastecimento urbano. Na seca de 2014-2015, em São Paulo, foram estudadas diversas alternativas para melhorar a segurança hídrica no abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. O sistema ficou bastante robusto com a implantação de sistemas redundantes, com a utilização de mananciais que ficam em “stand-by” e flexibilização da operação dos sistemas de distribuição, entre outros. A validade da solução ficou demonstrada nos anos secos seguintes, como 2021, quando o impacto da seca sobre a população foi bem menor do que no evento anterior.
Portal ABES Notícias – De que forma a discussão pode contribuir para o avanço da segurança hídrica?
Mônica Porto – Há ainda temas que podemos desenvolver e avançar, principalmente aprendendo com outros países onde a experiência específica é maior. Planos de contingência e preparação ainda faltam no Brasil, enquanto em outros locais, como na Califórnia, essa prática já é melhor estruturada. Sistemas de alerta de cheias, monitoramento de secas e outros sistemas de informação são igualmente importantes. E, ainda, novas tecnologias como a dessalinização, bastante usada na Espanha, por exemplo.
Portal ABES Notícias – Como está sendo para a senhora o desafio de coordenar o Tema 8 do evento?
Mônica Porto Muito interessante! Compartilho a organização do tema com o Rafael Volquind e temos visto muitas oportunidades de trazer especialistas que contribuam para nossa discussão. Temas desafiadores têm também sido colocados e esperamos enriquecer o debate e trazer novos exemplos que permitam o Brasil enfrentar melhor o enorme desafio de enfrentar mudanças do clima com menor impacto para a população.